Da janela

Da janela do pequeno apartamento, ganha-se a permissão de observar sem ser observado. Para os introvertidos disfarçados nas multidões da vida adulta, um pequeno prazer de fazer os olhos brilharem. Não se trata de fofocar. Mas de notar as nuances do caminhar alheio pelas ladeiras que fazem arfar. De sentir a humanidade ensaiada nos diálogos de curta duração. De acordar com vontade de escrever e simplesmente abrir a janela para ver o que vem dali. Os seres sensíveis precisam janelas. E muitos deles, nem paredes possuem. E, por não possuírem, deixam de ser. De existir. A janela também mostra as desigualdades, que, na verdade, nunca se esconderam.