Saudades dos textos ridículos
Álvaro de Campos, meu heterônimo favorito de Fernando Pessoa, diz que todas as cartas de amor são ridículas. Eu diria mais, tudo que bate muito fundo em mim pode soar um pouco ridículo para você. Diria mais ainda, depois de um tempo, alguns dos meus textos soam ridículos para as novas versões de mim. Mas é um ridículo adorável. Um documento do tempo subjetivo, um retrato de dores e delícias. Não falo de sofrimentos por dores profundas — essas geralmente são abismais e amargas — , mas de sofrimentos profundos por dores efêmeras. Sofrimentos como o rio de Parmênides, aqueles nos quais não vamos nos banhar novamente. A rotina mastigou meus textos ridículos. Sinto saudades deles.